NOVO PROGRAMA DE MATEMÁTICA PARA O ENSINO BÁSICO
METAS CURRICULARES DE MATEMÁTICA

DEBATES PÚBLICOS
NO DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA DA FCUP
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Segundo o MEC “As metas curriculares estabelecem aquilo que pode ser considerado como a aprendizagem essencial a realizar pelos alunos, em cada um dos anos de escolaridade ou ciclos do ensino básico.
Constituindo um referencial para professores e encarregados de educação, as metas ajudam a encontrar os meios necessários para que os alunos desenvolvam as capacidades e adquiram os conhecimentos indispensáveis ao prosseguimento dos seus estudos e às necessidades da sociedade atual.

Alguns pontos destacados na imprensa diária (jornal Público de 24 de Abril) que podem servir de mote para os debates:

    1. Um dos princípios que subjaz ao novo programa, é o da importância da memorização que, “nas últimas décadas, foi descuidada”, frisou um dos autores do novo programa, Carlos Grosso, que é professor do ensino básico e secundário. As metas curriculares para esta disciplina, homologadas no ano passado e que definem o que um aluno deve saber nas diferentes etapas do seu percurso escolar, já o estabelecem ao definir, por exemplo, que um dos objectivos de aprendizagem no 2.º ano é o “saber de memória as tabuadas do 2, do 3, do 4, do 5, do 6 e do 10”. No 3.º ano é a vez das tabuadas do 7, 8 e 9. A memorização das tabuadas de multiplicação também se encontra prevista, para estes mesmos anos, no programa ainda em vigor, mas a sua concretização não parece satisfazer os autores do documento que o irá substituir. “A memorização não é antagónica da compreensão, antes pelo contrário”, defendeu Carlos Grosso, indicando que um dos objectivos gerais do novo programa é precisamente relacionar aquele procedimento “com o aumento da disponibilidade de recursos cognitivos”.

    2. A possibilidade de compreender e resolver bem um problema matemático é muito maior quando um aluno sabe a tabuada de cor. Como a nossa “memória de trabalho tem capacidade limitada, a memorização de factos e a automatização de procedimentos permite a compreensão e concentração em tarefas mais complexas”, frisou Isabel Festas, professora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e uma das coordenadoras da equipa das metas, acrescentando que “hoje em dia não basta fazer bem, é preciso fazê-lo rapidamente”.

    3. Com o novo programa de Matemática para o ensino básico, o império das máquinas calculadoras nas salas de aulas fica com os dias contados. Filipe Oliveira, professor da Universidade Nova de Lisboa e um dos autores do novo programa e das metas curriculares de Matemática, admitiu hoje, numa conferência de imprensa destinada a apresentar o novo documento, que a utilização de calculadoras no 1.º e 2.º ciclo para resolver operações simples tem tido efeitos “muito nefastos”, já que o aluno “recorre a uma espécie de caixa mágica onde lhe aparecem os resultados sem que chegue a compreender” a operação realizada.  O ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, que sempre foi um crítico do uso da calculadora nos primeiros anos de escolaridade, considerou hoje que o programa ainda em vigor, aprovado em 2007, “continua a promover o uso da calculadora”, embora não seja tão benévolo como era o anterior, que está na sua base. “Deve haver alguns limites”, defendeu Crato. “Isso não quer dizer que as calculadoras não devem ser usadas, mas com bom senso”, esclareceu Filipe Oliveira, frisando que “os professores, melhor que ninguém, saberão quando o uso é nefasto ou vantajoso”.

    4. Outra das mudanças previstas é a da inversão da tendência para a “excessiva contextualização” dos problemas. “É preciso partir do concreto, mas com a preocupação de alcançar o conhecimento abstracto das relações matemáticas. Não podemos estar sempre a desenvolver problemas demasiado contextualizados [envoltos numa história ou na descrição de situações do quotidiano], até porque as crianças acabam por se aborrecer com enunciados muito palavrosos”, defendeu Carlos Grosso.

    5. Segundo um dos autores do programa de 2007, João da Ponte, o  MEC está a recuperar "uma matemática muito abstracta e muito formalizada que não serve a escola e os alunos de hoje”.

    6. Hoje, Nuno Crato desvalorizou estas críticas, frisando que o novo programa visa, pelo contrário, “modernizar o currículo”, tornando-o “mais exigente, mais claro e mais adaptado às necessidades dos dias de hoje”. O ministro acrescentou que o novo programa dá “uma grande liberdade metodológica aos professores sendo ao mesmo tempo muito claro nos seus objectivos, que é o contrário do que acontecia”. Crato justificou a sua adopção com o facto de, após este primeiro ano de aplicação ainda não obrigatória das metas curriculares, “subsistirem algumas dúvidas e incongruências pontuais” entre o que se encontra recomendado nestas e o que está recomendado no programa de 2007.