A teoria
planetária de Kepler |
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A teoria de Kepler sobre o papel desempenhado pelos sólidos
regulares no universo, é um pouco mais "científica" do
que a teoria atómica de Platão. Na altura, eram seis os
planetas conhecidos: Mercúrio, Vénus, Terra, Marte,
Júpiter e Saturno. Kepler, influenciado pela teoria de Copérnico, segundo a qual os planetas se movimentam à volta do Sol, procurou encontrar relações numéricas para explicar a existência de exactamente seis planetas e ainda a razão das respectivas distâncias ao Sol. Decidiu por fim que a solução não era numérica mas sim geométrica. Existiam exactamente seis planetas, pensava ele, porque a distância entre cada par adjacente devia estar ligada a um determinado sólido regular, dos quais existem cinco.
Em segundo lugar, como sabemos, não existem seis mas, pelo menos, nove planetas. Urano, Neptuno e Plutão, foram descobertos depois de Kepler. Porque é que dois gigantes intelectuais como Platão e Kepler teriam defendido teorias tão irrealistas? O que é que os terá levado a procurar ligações entre os sólidos regulares e a estrutura do universo? A resposta está no facto de terem partido da mesma profunda convicção que motiva os cientistas actuais: que o padrão e a ordem do mundo podem ser descritos, e em certa medida explicados, através da matemática. Na altura a geometria de Euclides era o ramo da matemática que mais tinha evoluído e, dentro da geometria, a teoria do sólidos regulares ocupava um lugar de destaque; tinha sido conseguida uma classificação completa, na sequência da identificação e dos estudo profundo dos sólidos regulares. Embora a teoria de Kepler não seja defensável, na sua concepção apresentou-se extremanente interessante e muito na linha do ponto de vista expresso pelo seu contemporâneo Galileu: "O grande
livro da Natureza só pode ser lido por aqueles que conhecem a
linguagem em que foi escrito. E essa linguagem é a
matemática"
Na verdade, foi a convicção profunda de Kepler na
existência de uma ordem matemática que o levou a adoptar o
seu modelo matemático de forma a ajustar-se aos dados
observados, mantendo a concisão estética do modelo, mesmo
à custa de algo que não conseguii explicar.
A busca da compreensão dos padrões da Natureza através do padrões abstractos da matemática baseou-se numa tradição que ainda hoje continua a dar importantes frutos. |
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Keith
Devlin "Matemática, a
ciência do padrões", Porto Editora, 2002 |
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