Relatividade Restrita - Uma introdução


Os ``Paradoxos"







Um paradoxo é uma aparente inconsistência ou contradição numa teoria. Se o paradoxo não puder ser resolvido de forma satisfatória, a teoria falha e deve ser modificada ou abandonada.





A vara e o celeiro




Dois camponeses têm um celeiro com comprimento próprio:

$\displaystyle L_0=L_{\hbox{\small celeiro}}=2\,m$

no seu referencial de repouso $ {\mathscr{R}}$ . Os camponeses estão, um no lado esquerdo e o outro no lado direito do celeiro. As portas estão abertas.

Um corredor transporta uma vara com comprimento próprio:

$\displaystyle L_0'=L'_{\hbox{\small vara}}=2.5\,m$

no seu referencial de repouso $ {\mathscr{R}}'$ .


O corredor aproxima-se do celeiro com uma velocidade $ \beta={V}/c=0.80$. O factor de Lorentz é pois igual a:

$\displaystyle \framebox{$\,\gamma=\frac{1}{\sqrt{1-\beta^2}}=1.68\,$}$


De acordo com a ``contracção" dos comprimentos, os camponeses pensam que a vara tem comprimento:

$\displaystyle L_{\hbox{\small vara}}=\frac{(L'_0)_{\hbox{\small vara}}}{\gamma}=\frac{2.5}{1.68}=1.49\,m$

Mas, por outro lado, o corredor pensa que o celeiro tem:

$\displaystyle L'_{\hbox{\small celeiro}}=\frac{(L_0)_{\hbox{\small celeiro}}}{\gamma}=\frac{2}{1.68}=1.19\,m$

Portanto:

$ \blacktriangleright$
No referencial $ {\mathscr{R}}$ , de repouso dos camponeses (e do celeiro), tem-se que:

$\displaystyle L_{\hbox{\small vara}}=1.49 < 2=L_{\hbox{\small

o que significa que, de acordo com os camponeses, a vara cabe dentro do celeiro.


Por favor habilite Java para uma construção interativa (com Cinderella).


$ \blacktriangleright$
No referencial $ {\mathscr{R}}'$ , de repouso do corredor (e da vara), tem-se que:

$\displaystyle L'_{\hbox{\small vara}}=2.5 > 1.19 =L'_{\hbox{\small

o que significa que, de acordo com o corredor, a vara não cabe dentro do celeiro !!


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Vamos construir um diagrama de Minkowski para esta experiência. Para isso consideremos os acontecimentos seguintes:

$ A_1$ .
a ponta frontal da vara entra no celeiro pela porta da esquerda.
$ A_2$.
a ponta traseira da vara entra no celeiro pela porta da esquerda.
$ A_3$.
a ponta frontal da vara sai do celeiro pela porta da direita.
$ A_4$.
a ponta traseira da vara sai do celeiro pela porta da direita.


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Relativamente aos camponeses, no seu referencial de repouso $ {\mathscr{R}}$ , a sequência temporal dos acontecimentos é:

$\displaystyle A_1\rightarrow A_2\rightarrow A_3 \rightarrow A_4$

uma vez que $ t_1<t_2<t_3<t_4$ . Por outro lado, relativamente ao corredor, no seu referencial de repouso $ {\mathscr{R}}'$ , a sequência temporal dos mesmos acontecimentos é:

$\displaystyle A_1\rightarrow A_3\rightarrow A_2 \rightarrow A_4$

Daí que existe um intervalo de tempo, medido em $ {\mathscr{R}}$ , $ {T}=t_2-t_1$ em que a vara está completamente dentro do celeiro, o que não acontece quando a experiência é descrita em $ {\mathscr{R}}'$ . Aqui, o acontecimento $ A_3$ precede $ A_2$ , o que significa que a ponta da frente da vara sai do celeiro pela porta da direita antes da ponta traseira entrar pela porta da esquerda. A vara nunca está completamente dentro do celeiro!

Não há qualquer paradoxo !! Ambas as descrições são válidas !!






Os gémeos




A figura seguinte mostra as linhas de universo de duas naves espaciais - $ {\mathcal{N}}_1$, que parte da terra à velocidade $ \beta=V/c=0.8$ e $ {\mathcal{N}}_2$ que regressa à terra com a mesma velocidade:

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A linha de universo da terra é o eixo dos $ t's$ e as marcas representam intervalos de um ano. Dez anos passaram na terra entre a partida de $ {\mathcal{N}}_1$ e a chegada de $ {\mathcal{N}}_2$ .

As marcas nas linhas de universo de cada uma das naves representam intervalos de um ano, de acordo com relógios nas naves. Note que elas se encontram a uma distância uma das outras superior à das marcas do eixo dos $ t's$ (linha de universo da terra) por um factor igual a $ 2.13$ (porquê ?).

A nave $ {\mathcal{N}}_1$ encontra a nave $ {\mathcal{N}}_2$ passados que são 3 anos, de acordo com o seu relógio, desde que partiu da terra. Além disso, passam mais 3 anos até que $ {\mathcal{N}}_2$ regressa à terra. Portanto, um astronauta que parte na nave $ {\mathcal{N}}_1$ e regressa na nave $ {\mathcal{N}}_2$ , envelhece 6 anos, enquanto que os habitantes que entretanto permaneceram na terra envelheceram 10 anos !!

Isto é consistente com o facto de que, do ponto de vista dos habitantes da terra, o relógio dos astronautas anda mais devagar por um factor igual a $ \gamma^{-1}=\sqrt{1-(0.8)^2}=0.6$ .

O applett seguinte ilustra o facto de que, do ponto de vista do astronauta, os relógios da terra andam mais devagar durante a viagem. Quando ele deixa o referencial de $ {\mathcal{N}}_1$ ele efectua a leitura dos relógios da terra, traçando a linha de $ {\mathcal{N}}_1$ -simultaneidade que passa na linha de universo da nave $ {\mathcal{N}}_1$ , no momento em que o relógio desta nave marca 3 anos.

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Esta linha $ {\mathcal{N}}_1$ -simultaneidade intersecta o eixo dos $ ct's$ no ponto $ 1.8$ anos ( $ 0.6\times 3$). Imediatamente após mudar de nave, para o regresso, o astronauta novamente lê o tempo da terra traçando agora a linha de $ {\mathcal{N}}_2$ -simultaneidade que passa no ponto de mudança. Esta linha intersecta o eixo dos $ t's$ no ponto $ 10-1.8=8.2$ anos. A diferença $ 8.2-1.8=6.4$ anos é varrida pela linha de simultaneidade quando o astronauta efectua a mudança da nave $ {\mathcal{N}}_1$ para a outra nave $ {\mathcal{N}}_2$ !!

A análise, do ponto de vista do astronauta, está representada no applett seguinte:

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As linhas amarelas representam as trajectórias de sinais luminosos emitidos pela terra, um por cada ano terrestre. Quando $ \beta=V/c=0.8$ a taxa à qual estes sinais são recebidos pela nave $ {\mathcal{N}}_1$ é de:

$\displaystyle \sqrt{\frac{1+\beta}{1-\beta}}=3\,\hbox{anos}$

enquanto que a taxa à qual são recebidos pela nave $ {\mathcal{N}}_2$ é de:

$\displaystyle \sqrt{\frac{1-\beta}{1+\beta}}=1/3\,\hbox{anos}$

como se viu quando estudamos o efeito Doppler.

Portanto a nave $ {\mathcal{N}}_1$ vê um flash em cada 3 anos e a nave $ {\mathcal{N}}_2$ vê 3 flashes por ano.

Por outro lado, no applett seguinte as linhas amarelas representam as trajectórias de sinais luminosos emitidos pelo astronauta, um por ano. Na terra eles são vistos com a mesma frequência - cada 3 anos para os que são emitidos pela nave $ {\mathcal{N}}_1$ e cada $ 1/3$ de ano quando são emitidos por $ {\mathcal{N}}_2$ . Os habitantes da terra levam 9 anos para ver 3 sinais de $ {\mathcal{N}}_1$ e apenas 1 ano para para ver os restante 3 sinais de $ {\mathcal{N}}_2$ .

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