A aula esquecida de Feynman (II)






O que é que sabemos mais? Vejamos:


  • A segunda lei de Newton diz que:

$\displaystyle {\bf F}\propto{\bf a}= \frac{\Delta {\bf v}}{\Delta t}=\frac{\Delta {\bf v}}{\Delta { \theta}}\frac{\Delta { \theta}}{\Delta t}$ (4)

  • A lei das áreas diz que o tempo é proporcional à área:$ \Delta t \propto \Delta {\mathcal{A}}$, e atendendo a (3):

$\displaystyle \Delta t \propto \Delta {\mathcal{A}}\propto R^2\Delta { \theta}$
         isto é:
$\displaystyle \frac{\Delta { \theta}}{\Delta t} \propto 1/R^2$ (5)

  • Por hipótese, conhecemos como a força central depende de $ R=\vert SP\vert=$ distância do planeta ao Sol - a força é a da atracção universal de Newton - força central inversamente proporcional ao quadrado da distância:
$\displaystyle {\bf F}\propto \frac{\widehat{{\bf r}} }{R^2}$ (6)

onde $ \widehat{{\bf r}}=\frac{\overrightarrow{SP}}{\vert\overrightarrow{SP}\vert}$ é um vector unitário com a direcção do raio vector do ponto $ P$ , aplicado em $ S$ (o centro de forças).
 

   Finalmente, reunindo toda esta informação, temos então que, por (6), (4) e (5), respectivamente:

$\displaystyle \frac{\widehat{{\bf r}} }{R^2} \propto {\bf F}\propto \frac{\Delt...
o que implica que:

$\displaystyle \frac{\Delta{\bf v}}{\Delta
ou ainda:

$\displaystyle \Delta {\bf v}\propto \widehat{{\bf r}} \Delta { \theta}$ (7)

Portanto:

 a variação da velocidade é proporcional à variação do ângulo e tem sempre a direcção radial, determinada pelo vector de posição.

Em particular, $ \Delta v$ não depende de $ R$ ! Em todo o ponto da órbita, não importa quão distante ou perto do Sol, o $ \Delta v$ correspondente a um dado ângulo é sempre o mesmo! Isto acontece porque, como vimos em (6), à medida que o planeta se afasta do Sol, a força que sobre ele actua fica cada vez mais fraca (diminui com o quadrado da distância) mas o tempo que a força actua no planeta aumenta (com o quadrado da distância, como em (3)). O resultado é que todos os $ \Delta v$ 's são iguais.



As diferenças







  • em Newton: os intervalos de tempo são todos iguais e os $ \Delta v$ 's apontam todos para o Sol. Mas os $ \Delta v$ 's são diferentes - os maiores $ \Delta v$ 's ocorrem quando o planeta está mais próximo do Sol.
  • em Feynman: os ângulos centrais são todos os mesmos e portanto os $ \Delta t$ 's são diferentes. Os $ \Delta v$ 's apontam todos para o Sol e são todos iguais em módulo ao longo de toda a órbita.


Reconstrução da aproximação poligonal da órbita



Este é o resultado principal de Feynman. Ele permite reconstruir a aproximação poligonal da órbita, dados:
1.
a posição inicial 0 do planeta
2.
a sua velocidade inicial $ {\bf v}_0$ e ainda
3.
o valor constante de $ \Delta v$

De facto, como se pode ver no applett seguinte:

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  • o planeta, partindo de 0, segue em linha recta com movimento uniforme com velocidade $ {\bf v}_0$ . Quando o raio vector varre um ângulo ao centro de $ 30^o$ , o planeta atinge o ponto 1.
  • no ponto 1 o planeta sofre uma força impulsiva que muda a sua velocidade de $ \Delta v$ no sentido radial. A nova velocidade $ {\bf v}_1$ é calculada pela regra do paralelogramo $ {\bf v}_1={\bf v}_0+\Delta .
  • o planeta, partindo de 1, segue com movimento rectilíneo uniforme com velocidade $ {\bf v}_1$ . Quando o raio vector varre um ângulo ao centro de $ 30^o$ , o planeta atinge o ponto 2.
  • no ponto 2 o planeta sofre uma força impulsiva que muda a sua velocidade de $ \Delta v$ no sentido radial. A nova velocidade $ {\bf v}_2$ é calculada pela regra do paralelogramo $ {\bf v}_2={\bf v}_1+\Delta .
e assim sucessivamente.

No applett seguinte destacou-se, num diagrama separado, a variação sucessiva das velocidades. A este diagrama de velocidades chama-se hodógrafo (= graphein + hodos = desenhar o caminho). Foi inventado por Hamilton.

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Como acabamos de deduzir, o hodógrafo para o movimento de um planeta sob a acção de um campo de atracção Newtoniano, é um círculo, cujo centro $ C$ em geral não coincide com a origem $ O$ do hodógrafo.


Se dividirmos a trajectória em sectores que subentendem ângulos iguais $ \Delta { \theta}$ (por exemplo iguais a $ 30^o$ , como no applett), então a soma de todos os $ \Delta {\bf v}$ 's formam um polígono regular uma vez que as sucessivas mudanças dos vectores velocidade estão inclinadas umas relativamente às outras de um mesmo ângulo $ \Delta { \theta}$ , e todos os $ \Delta {\bf v}$ 's têm o mesmo tamanho, $ K\Delta { \theta}$ . No limite, quando $ \Delta { \theta}\to 0$ , o polígono torna-se um círculo de raio $ K$ . O centro do círculo é o ponto de onde parte $ \widehat{\bf r}$ . De facto, a "velocidade" do hodógrafo, tangente ao círculo, é a aceleração $ {\bf a}$ .

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