Relatividade Restrita - Uma introdução





II. Transformações de Galileu




1.
Transformação de Galileu

Um acontecimento$ A$ ocorre no instante $ t$ no ponto de coordenadas $ (x,y,z)$ , relativas a um referencial de inércia $ {\mathscr{R}}$ . Quais são as coordenadas $ (t',x',y',z')$ de $ {\mathcal{A}}$ , relativas a um outro referencial de inércia $ {\mathscr{R}}'$ , que se move com velocidade $ {V}$ , relativamente a $ {\mathscr{R}}$ ?

Por simplicidade, supômos que o movimento relativo se faz segundo a direcção do eixo dos $ xx$ e que os eixos se mantêm sempre paralelos. 


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A figura mostra que:
\begin{displaymath}\begin{array}{lll} x'&=& x-{V} t\\ y'&=&y\\ z'&=&z \end{array}\end{displaymath} (2)

equações às quais se deve juntar:
$\displaystyle t'=t$ (3)

que traduz o carácter absoluto do tempo, de acordo com a relatividade de Galileu.



2.
Invariância da distância

Consideremos dois pontos $ P_1$ e $ P_2$ cujas coordenadas num referencial de inércia $ {\mathscr{R}}$ são $ x_1=a$ , $ y_1=z_1=0$ e $ x_2=b$ , $ y_2=z_2=0$ , respectivamente. A distância entre os dois pontos é igual a $ b-a$ .

Seja $ {\mathscr{R}}'$ um outro referencial de inércia, que se move com velocidade $ {V}$ , relativamente a $ {\mathscr{R}}$ , segundo a direcção do eixo dos $ xx$ (os eixos mantêm-se sempre paralelos).

Relativamente a este referencial os pontos $ P_1$ e $ P_2$ movem-se - as equações do movimento são obtidas usando as transformações (2) e (3):



$\displaystyle x'_1$ $\displaystyle =$ $\displaystyle a-{V} t'$  
$\displaystyle x'_2$ $\displaystyle =$ $\displaystyle b-{V} t'$  

Suponhamos agora que observadores em $ {\mathscr{R}}'$ medem a posição do ponto $ P_1$ no instante $ t'_1$ e a do ponto $ P_2$ no instante $ t'_2$ . A diferença das duas leituras é:


$\displaystyle x'_2-x'_1=b-a-{V}(t'_2-t'_1)$

Portanto, se $ t'_2=t'_1$ , vemos que $ x'_2-x'_1=b-a$ , isto é:

A separação espacial entre dois acontecimentos que ocorrem no mesmo instante (são simultâneos) é invariante. Veremos que isto não é verdadeiro em relatividade de Einstein.                                                                                                                                                                                                               


3.
Transformação das velocidades

Suponhamos que um ponto se move numa recta com velocidade uniforme $ {\bf v}=(v_x,v_y,v_z)$ , medida num referencial de inércia $ {\mathscr{R}}$ . Se o ponto parte da origem no instante $ y=0$ , as equações do movimento são:

$\displaystyle \left\{\begin{array}{lll} x&=&v_x t \\ y&=& v_y t \\ z&=& v_z t\end{array} \right.$ (4)

Seja $ {\mathscr{R}}'$ um outro referencial de inércia, que se move com velocidade $ {V}$ , relativamente a $ {\mathscr{R}}$ , segundo a direcção do eixo dos $ xx$ (os eixos mantêm-se sempre paralelos).

Usando as transformações (2) e (3) para exprimir $ x',y',z',t'$ em termos de $ x,y,z,t$ , obtemos:

$\displaystyle \left\{\begin{array}{rll}x'+{V} t'&=&v_x t' \\

isto é:

$\displaystyle \left\{\begin{array}{lll}x'&=&(v_x-{V}) t' \\

Estas equações descrevem um movimento rectílineo uniforme com velocidade constante $ {\bf v}'=(v_{x'},v_{y'},v_{z'})$, onde:

$\displaystyle \left\{\begin{array}{lll}v_{x'}&=& v_x-{V} \\ v_{y'}&=& v_y \\ v_{z'}&=& v_z \end{array}\right.$ (5)



4.
Invariância da aceleração

De acordo com as equações (5), as velocidades do movimento do ponto diferem de uma constante $ {V}$ . Portanto as acelerações são as mesmas em ambos os referenciais:

$\displaystyle {\bf a}'={\bf a}$


Vejamos um exemplo sugestivo de aplicação das fórmulas que acabamos de referir, e que será útil em breve.


Exemplo:


Dois nadadores nadam num rio de largura $ L$. A corrente da água do rio tem velocidade $ {V}$ relativamente a um referencial $ {\mathscr{R}}$ , fixo nas margens do rio.

Cada nadador nada com velocidade $ c$ relativamente ao referencial de repouso, $ {\mathscr{R}}'$ , da água (o referencial que se move solidário com a corrente, da esquerda para a direita no applett ...).

O nadador $ 1$ atravessa o rio, partindo de um ponto $ P$ da margem para o ponto oposto $ B$ , na outra margem, e depois regressa ao ponto de partida. O nadador $ 2$ nada uma distância $ L$ , paralelamente à margem (e relativamente a esta), até ao ponto $ A$ , e depois regressa.

Quem ganha a prova ?




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Animação 1:   Mova com o rato o ponto de controlo para obter a resposta.


Resolução:


As coordenadas dos dois referenciais relacionam-se através das equações:

$\displaystyle \left\{ \begin{array}{lll} t'&=& t\\ x'&=& x-{V} t\\ y'&=& y \end{array}\right.$ (6)

(o sinal de $ {V}$ é $ -$ porque supômos que a corrente se desloca da esquerda para a direita, na direcção dos $ x's$ positivos).

No referencial $ {\mathscr{R}}'$ (referencial de repouso da água) ambos os nadadores nadam com velocidade $ c$ em qualquer direcção. Mas no referencial $ {\mathscr{R}}$ (referencial fixo às margens) a situação altera-se. A relação entre as componentes da velocidade nos dois referenciais obtem-se derivando as relações anteriores relativamente ao tempo (lembrando que $ t=t'$ ) e já foi obtida na secção anterior:

$\displaystyle \left\{ \begin{array}{lll} v_{x'}&=& v_x-{V}\\ v_{y'}&=& v_y \end... (7)


Vejamos o tempo do percurso do nadador $ 2$ :

Relativamente a $ {\mathscr{R}}$ ele nada uma distância $ L$ ao longo da margem, como na animação 1, com uma velocidade $ v_x=c+{V},v_y=0$ e depois regressa com uma velocidade $ v_x=c-{V},v_y=0$ (é claro que estamos a supôr que $ c>{V}$ !). O tempo total gasto é pois:
$\displaystyle \framebox{$\, {T}_2=\frac{L}{c+{V}}+\frac{L}{c-{V}}=\frac{2cL}{c^2-{V}^2}=\frac{2L}{c}\gamma^2\,$}$ (8)

onde:
$\displaystyle \framebox{\,$ \gamma=\frac{1}{\sqrt{1-({V}/c)^2}}\,$}$ (9)

é o chamado Factor de Lorentz.



Vejamos agora o tempo do percurso do nadador $ 1$:

As componentes da velocidade do nadador $ 1$ , no referencial $ {\mathscr{R}}$ , são $ v_x=0, \pm v_y$, para algum valor $ v_y$ que se pretende determinar (o sinal + no percurso $ PB$ e o sinal - no percurso de regresso $ BP$).

Mas, segundo o referencial $ {\mathscr{R}}'$ , que se move solidário com a corrente, o nadador $ 1$ percorre uma trajectória oblíqua:

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com velocidade:

\begin{displaymath}

isto é:

$\displaystyle v_y=\pm\sqrt{c^2-{V}^2}$

O tempo total gasto pelo nadador $ 1$ é pois igual a:
$\displaystyle \framebox{$\,{T}_1=\frac{2L}{\sqrt{c^2-{V}^2}}=\frac{2L}{c}\gamma \,$}$ (10)

Temos portanto que:

$\displaystyle {T}_2/{T}_1=\gamma\geq 1 \ \ \ \ \ \Rightarrow \ \ \ \ \ {T}_2\geq{T}_1$

Se $ {V}>0$ o nadador $ 1$ ganha a corrida. Se $ {V}=0$ , isto é, se a água está parada (não há corrente), ambos chegam ao mesmo tempo.


E se a corrente faz um ângulo de $ 45^o$ relativamente aos dois nadadores ?







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