COMO DESENHAR UMA LINHA RECTA

COM

MECANISMOS ARTICULADOS PLANOS

(segundo Kempe)

Alfred Bray Kempe


Born: 6 July 1849 in Kensington, London, England
Died: 21 April 1922 in London, England
 
 

 
 
 
 

1. Introdução

       O grande geómetra Euclides, antes de demonstrar várias proposições contidas na sua obra Elementos de Geometria, pressupõe que sejamos capazes de efectuar certas construções preliminares. Estes requisitos iniciais, agora denominados Postulados, envolvem, em particular, a suposta possibilidade de construirmos linhas rectas e círculos. É tão grande a veneração prestada a este mestre-geómetra, que, em geral, todos recusariam a designação de “geométrica” a uma demonstração que não pudesse ser efectuada apenas com o recurso a  linhas rectas e círculos. Consequentemente muitos problemas - tal como, por exemplo, a trissecção de um ângulo - que podem facilmente ser resolvidos por outros processos simples, segundo Euclides, não têm uma solução geométrica, já que não podem ser resolvidos  apenas com linhas rectas e círculos.

       Tornou-se assim interessante investigar como podemos satisfazer estas exigências preliminares, como construir estes círculos e estas linhas rectas com a   precisão máxima permitida pelos dispositivos físicos que temos ao dispor.

       Relativamente ao círculo não encontramos dificuldades. Atendendo às definições de Euclides, e supondo que a superfície na qual desejamos descrever o círculo é um plano, vemos que basta que o marcador preserve a distância (igual ao raio requerido) ao centro dado do círculo. Isto pode imediatamente ser conseguido tomando uma peça plana de qualquer forma, tal como uma peça de cartão, passando o pivot (pequeno eixo), que está fixado à superfície dada, no centro dado através dum furo na peça, e o marcador (ou lápis) por entre outro furo nessa mesma peça, com uma distância ao primeiro furo igual ao raio dado; podemos então, movendo o lápis, mesmo com este rude aparelho, descrever um círculo com considerável precisão e facilidade; e quando os furos e pivots forem muito pequenos, ou mesmo grandes, desde que efectuados com a maravilhosa precisão que o torno mecânico já permite obter, devemos obter um resultado incomparável pela suavidade e precisão dos seus movimentos. O aparelho que acabamos de descrever é evidentemente um simples compasso, e é usual dizer-se que o terceiro Postulado postula a existência de compassos.

       Mas a linha recta, como vamos nós descrevê-la? Euclides definiu-a como algo que se “distribui uniformemente entre os seus pontos extremos”. Isto não nos ajuda muito. Os livros de texto dizem que o primeiro e segundo Postulados postulam a existência de régua (2). Mas isto é supor como dado adquirido exactamente aquilo que se pretende construir: se estamos a desenhar uma linha recta com uma régua, a própria régua tem uma aresta recta; e como vamos construir essa aresta recta? Voltámos ao ponto de partida.

       Esperámos que, neste momento, seja bem clara a diferença entre o método que adoptámos há pouco, para descrever um círculo, e o método da régua para descrever uma linha recta. Se aplicarmos o método da régua na descrição do círculo, devemos tomar uma lâmina (chapa) circular, por exemplo uma moeda, traçando o círculo passando um lápis em volta do bordo. No entanto, encontrámos de novo as mesmas dificuldades de há pouco, visto que primeiramente temos que fazer a lâmina em forma circular !

      Por outro lado, no outro método que aplicámos para o círculo, não assumimos  previamente que temos um círculo que depois usámos para traçar um outro - simplesmente exigimos que a distância entre dois pontos seja invariável. Estámos naturalmente cientes que aplicámos círculos no nosso compasso simples, o pivot e o furo na peça móvel são disso exemplos; mas os círculos são usados, não por serem as curvas que queremos descrever (estas são de diferente tamanho), tal como o caso da aresta recta, mas devido à impossibilidade de construir pivots ou furos de dimensão nula, somos forçados a adoptar o melhor substituto possível para fazer com que um ponto na peça articulada fique no mesmo sítio. Se usarmos pivots e furos muito pequenos, embora eles não sejam verdadeiramente circulares, o erro na descrição do círculo, em dimensões moderadas, será praticamente infinitesimal,   não excedendo talvez a largura da linha mais fina que o marcador possa descrever; e, mesmo quando aplicamos grandes pivots e furos, devemos obter resultados com precisão, já que esses pivots e furos podem ser feitos usando outros de dimensões muito pequenas, na máquina que os constrói.

       Parece portanto que, embora tenhámos um método fácil e preciso para descrever um círculo, não temos, à primeira vista, um método correspondente para descrever uma linha recta; ora isto representaria uma enorme lacuna – não sabermos construir logo aquela que, para os matemáticos, é a curva mais simples! Assim, superar tamanha dificuldade tornou-se um objectivo de claro interesse teórico.

       Mas esta não é uma questão apenas de interesse teórico, pois é óbvia a sua grande importância prática no fabrico de mecanismos. De facto, num grande número de máquinas e aparelhos científicos é necessário que algum ponto ou pontos devam mover-se com precisão segundo uma linha recta, com a mínima fricção (atrito) possível. Se adoptarmos o “princípio da régua”, e o ponto fôr mantido na sua trajectória através de guias, teremos o desgaste, com eventual ruptura, produzido pela fricção das superfícies de deslizamento e ainda a deformação produzida por mudanças de temperatura e variação de tensões, isto, é claro, para além da dificuldade inicial de fazer as guias verdadeiramente rectas! Por conseguinte, torna-se realmente necessário obter algum método que não envolva estas características desagradáveis, mas que possua a precisão e facilidade do movimento que caracterizam o nosso aparelho para a construção do círculo.

       Voltando ao aparelho, notemos que tudo o que é necessário para desenhar com precisão um círculo, com um certo raio dado, é ter a distância entre o pivot e o marcador bem determinada; se articulámos uma segunda peça à superfície fixa, com o respectivo pivot, tendo também um marcador, tal como a primeira, então, com uma distância apropriada entre marcador e pivot, podemos descrever um segundo círculo cujo raio possui qualquer proporção pré-determinada com o do primeiro círculo. Removendo agora os dois marcadores, articulemos uma terceira peça com as duas anteriores, a que chamámos radiais, nos pontos onde estavam os marcadores. Fixemos então um novo marcador em algum ponto desta terceira peça transversal, tal como se mostra na figura 1.


 

Figura 1

       Se as peças radiais forem suficientemente grandes, o marcador descreve círculos ou porções de círculos nelas próprias; contudo elas estão em movimento, com a mesma mobilidade e precisão, tal como no caso do aparelho simples para desenhar círculos; no entanto, agora o marcador não descreverá um círculo na superfície fixa, mas sim uma curva complicada.

       Esta curva, será descrita todavia, com toda a facilidade e precisão com que eram descritos os círculos, e se quisermos reproduzir num segundo aparelho as curvas que produzimos com este, temos apenas de respeitar as distâncias entre os pivots e o marcador. As curvas serão precisamente as mesmas, em ambos os casos. Poderíamos, naturalmente, ir acrescentando novas peças ad libitum, conseguindo desta forma descrever muitas curvas complicadas, embora com resultados idênticos de precisão e suavidade – assim, a reprodução de qualquer curva particular, dependerá unicamente da correcta determinação de um certo número definido de distâncias.

       A estes sistemas, constituídos por peças articuladas entre si e por pivots ligando essas peças a uma base fixa, de tal forma que os vários pontos nessas peças descrevem curvas definidas, chamámos “sistemas articulados”; às peças chamámos  “barras”. Por vezes tem interesse considerar esses sistemas independentemente da forma como se encontram articulados à superfície fixa. Nesse caso designá-los-emos por “mecanismos planos”. Estes podem ser rodados de forma arbitrária relativamente à base fixa. A curva descrita pelo marcador de um sistema articulado designa-se por “traço “ (3).

       As propriedades destes mecanismos planos têm atraído a atenção dos matemáticos durante os últimos anos e é um tema muito complexo e difícil. Apesar de ser possível a análise puramente matemática da questão, vamos restringir a nossa atenção aos resultados práticos que alguns matemáticos obtiveram. Aliás, acreditámos que tais resultados só poderiam ser mesmo obtidos por matemáticos! Não resta qualquer dúvida àcerca da valia desses resultados, embora a sua grande beleza possa ter exacerbado a importância que eles de facto não têm. Pode ser que, hà 50 anos atrás, eles tenham tido um valor que, entretanto, deixaram de ter devido aos sucessos conseguidos pela mecânica moderna na construção de réguas e outras estruturas exactas.

       Os resultados práticos obtidos pelo uso dos mecanismos planos são, apesar de em número reduzido, estritamente relacionados com o problema do movimento rectilíneo, e, de facto, foram obtidos durante a investigação desse problema. Portanto, somos levados naturalmente a considerar o movimento rectilíneo como a essência do nosso estudo. Mas, antes de nos debruçamos sobre esses mecanismos, é útil imaginar como poderemos construir, na prática, tais modelos; e aqui está uma das grandes vantagens do nosso tema - podermos visualizar com toda a facilidade tais resultados diante de nós. Alfinetes para os pivots fixos, cartões para as barras, corda ou algodão para os restantes pivots e uma mesa para a base fixa, é tudo o precisamos. Se for pretendido algo mais artístico, podemos utilizar os modelos exibidos, na Loan Collection. Os modelos foram construídos por H.R.Kempe, da seguinte maneira. As bases são placas estreitas pintadas de preto; as barras são primorosamente construídas com cartões espessos; os pivots são pequenos pregos feitos de corda, sendo as cabeças dos pregos feitas pressionando a face de um cinzel de metal quente nos extremos da corda, após esta ter passado através dos buracos dos pivots; isto produz uma macia e firme junta de trabalho. Pivots mais duradouros podem ser feitos de folha-de-flandres; fura-se a folha-de-flandres para se obter os buracos dos pivots e utiliza-se ilhós de sapatos para os pivots. Pode adquirir-se os utensílios referidos, economicamente, em qualquer drogaria.
 

 

2. Traçado aproximado de uma linha recta

 

       As curvas descritas por pontos escolhidos nestes mecanismos são, em geral, muito complexas. Mas poderemos obter curvas simples, se escolhermos adequadamente as distâncias entre os pivots. Existirá algum ponto, de alguma barra, que descreva uma linha recta? Isto é o que vamos investigar.

       Com uma única barra é visivelmente impossível, pois todos os pontos da barra descrevem círculos. Consideremos então uma estrutura de três barras. Neste caso teremos de escolher seis distâncias: a distância entre os pivots fixos, CD, as distâncias entre os pivots nas barras radiais, BD e AC, a distância entre os pivots nas barras transversais, AB, e a distância entre o marcador e os pivots nas barras transversais, AP e BP (P é o marcador) (ver a figura 2). Podemos escolher tais distâncias, de modo que o nosso traçado seja uma linha recta?

 A primeira pessoa que investigou isto foi James Watt. O “Movimento Paralelo de Watt” (4), inventado em 1784, é conhecido por qualquer engenheiro e é utilizado em quase todas as máquinas a vapor. Um modelo deste sistema articulado está ilustrado na figura 2, na sua forma mais simples.

 As barras radiais são de igual comprimento e a distância entre os pivots na barra transversal é tal que, quando as barras radiais são paralelas, a linha formada por esses pivots é perpendicular às barras radiais. O marcador está situado no ponto médio dos pivots na barra transversal. A curva descrita pelo marcador é aproximadamente uma linha recta, se o sistema articulado não se desviar muito da sua posição média. A razão para este facto é que os círculos, descritos pelas extremidades das barras radiais, têm concavidades com direcções opostas, e o marcador, situado no ponto médio da barra transversal, descreve uma curva que acaba por não ter concavidade e é, por isso, pelo menos aproximadamente, uma linha recta. A curva não é, contudo, exactamente recta (prova 1.pdf; prova geral.pdf), pois se permitirmos que o marcador descreva todo o traçado que é capaz de descrever, este desvia-se, consideravelmente, da linha recta, quando suficientemente afastado da sua posição média. A curva que se obtém com este mecanismo tem a forma de um 8, como podemos ver na figura 2.



 

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Figura 2. Mecanismo de Watt 
(
ver relatório da construção pdf)

 

         Para muitas aplicações, a “linha recta” obtida pelo mecanismo de Watt, é perfeitamente satisfatória, mas, se for necessária uma linha recta exacta, temos que insistir nas nossas tentativas. De facto, é possível provar que é impossível resolver o problema com uma estrutura de três barras. Existem melhores aproximações de linhas rectas do que as dadas por Watt.

       Daremos alguns exemplos dessas aproximações. A primeira dessas, descrita na figura 3, deve-se a Richard Roberts de Manchester.
 
 

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Figura 3. Mecanismo de Roberts
(ver relatório da construção pdf)

 

       As barras radiais, AB e CD, são de igual comprimento, a distância entre os pivots fixos, AD, é o dobro da distância entre os pivots na parte transversal, BC, e o marcador dista dos pivots o mesmo comprimento das barras radiais. Consequentemente, o marcador traça aproximadamente a linha recta que se obtém unindo os pivots fixos, coincidindo com esses mesmos pivots e com o ponto médio entre eles. Contudo, não coincide em quaisquer outros pontos, desviando-se ligeiramente entre os pivots fixos. A trajectória descrita pelo marcador, depois de passar pelos pivots fixos, desvia-se da linha recta.

         O outro aparelho foi inventado pelo Professor Tchebicheff de São Petersburgo. Está representado na figura 4. As barras radiais são iguais em comprimento, tendo por exemplo, cada 12,7cm de comprimento no meu modelo pequeno. A distância entre os pivots fixos tem então de ter 10,16cm, e a distância entre os pivots ou entre as barras transversais 5,08cm. O marcador está a meio, entre estas últimas. Se agora desenharmos uma linha recta – de facto, ainda não sabemos fazer isso! Mas continuando - se desenharmos uma linha recta, assim popularmente chamada, através do marcador, na sua posição média, tal como ilustrado na figura 4, paralela à recta que une os pivots fixos, verifica-se que o marcador coincide com essa linha nos pontos onde as verticais através dos pivots fixos a interceptam, tal como na posição média, mas, como no caso do mecanismo de Roberts, não coincide em nenhum outro ponto, apesar do seu desvio ser muito pequeno, desde que o marcador P se mantenha entre as referidas verticais.


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Figura 4. Mecanismo de Tchebicheff
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2. Traçado exacto de uma linha recta. O mecanismo de Peaucellier
 

      Falhámos então com 3 barras, e temos de continuar com o próximo caso, um mecanismos com 5 barras – observemos que precisamos de um número ímpar de barras se queremos um aparelho que descreva determinadas curvas. Será que conseguimos resolver o problema com 5? Podemos, de facto! Mas este não foi o primeiro movimento exacto descoberto, e temos de dar ao seu primeiro autor o respectivo mérito (se bem que ele não tenha descoberto o modo mais simples) e prosseguir por ordem cronológica estrita.

          Em 1864, oito anos após a descoberta de Watt, o problema foi resolvido pela primeira vez por M. Peaucellier, um oficial de Engenharia da armada francesa. À sua descoberta não foi inicialmente dado o seu real valor, tendo caído quase no esquecimento, até ter sido redescoberta por um estudante russo chamado Lipkin, que recebeu um prémio substancial do Governo Russo pela sua suposta originalidade. Entretanto, o mérito de M. Peaucellier foi finalmente reconhecido, tendo sido galarduado com o prémio de grande mecânico do Instituto de França, o “Prix Montyon”.

       O aparelho de M. Peaucellier está representado na figura 5.
  

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Figura 5. Mecanismo de Peaucellier
  (ver relatório da construção pdf)
  

       Tem, como se pode ver, sete barras. Existem antes de mais duas barras de igual comprimento (OA=OB). Estas estão ambas articuladas no mesmo ponto fixo O; as suas outras extremidades, A e B, estão articuladas em ângulos opostos de um losango ACBP composto por 4 barras iguais e de comprimento inferior às barras OA e OB. A porção do aparelho que descrevi até agora, considerada ignorando a base fixa, é um sistema articulado denominado “célula de Peaucellier”. Pegámos então numa barra extra, QC, e articulámo-la a um ponto fixo, Q, tal que QC=QO; a outra extremidade desta barra extra está então articulada a um dos ângulos livres do losango, C; o outro ângulo livre do losango, P, tem um marcador no seu pivot, que vai descrever uma linha recta exacta.

       Temos agora de fazer uma breve digressão em Geometria elementar. É absolutamente necessário que façámos isso, a fim de podermos perceber o princípio do mecanismo de Peaucellier.

       Na figura 6, QC é a barra extra, articulada ao ponto fixo Q. A outra extremidade desta barra é C, que descreve o círculo OCR. As linhas rectas PM e P´M´ são perpendiculares a MM´. O ângulo OCR, sendo o ângulo num semicírculo, é um ângulo recto. Portanto, os triângulos OCR e OMP são semelhantes, donde se deduz que:

OC:OR=OM:OP

ou ainda: 

OC.OP=OM.OR

qualquer que seja a posição de C sobre o círculo. Ou seja, como OM e OR são ambas constantes, quando C se move no círculo, P move-se de tal forma que O, C e P estão sempre alinhados, e OC.OP é sempre constante; portanto P irá descrever a linha recta PM perpendicular à linha OQ.

 
 

 
 

Figura  6

       É também claro que se tomarmos o ponto P´, do outro lado de O, e se OC . OP´ é constante, P´ vai descrever a linha recta P´M´. Isto vai ser importante.

       Agora, na figura 7, que é um esboço da célula de Peaucellier, vemos que da simetria da construção da célula, O, C, P são colineares, e se a linha recta An fôr desenhada perpendicular a CP – esta linha recta deve ainda ser imaginada, uma vez que ainda não provamos que o nosso aparelho desenha uma linha recta – Cn é igual a nP. Agora,

AO²  = On² + An²
AP² = Pn²+ An²

e portanto,

AO² – AP² = On² –  Pn²
                                     = [On – Pn ] . [On + Pn ]
               = OC . OP
 

Assim, como OA e AP são ambas constantes, OC . OP  é sempre constante, quer C e P estejam perto ou longe de O. Se então o pivot O fôr fixado no ponto O na Fig. 6, e o pivot C for construído de modo a que descreva a circunferência de centro Q, aí representada, o pivot P vai satisfazer todas as condições necessárias para se mover numa linha recta, e se fixarmos um marcador a P, este vai traçar uma linha recta exacta. A distância da linha aos pivots fixos vai depender de AO² – AP² que podemos fixar de forma arbitrária.
 

 

    Figura 7

 

     Esperamos que seja bem claro quais os dois elementos que compõem o aparelho, a barra extra e a célula, e a função que cada um desempenha, uma vez que pretendemos agora descrever algumas modificações da célula. A barra extra vai permanecer a mesma que antes, e é somente a célula que irá ser alterada.
 
 3. Modificações da célula de Peaucellier

 

       Se pegarmos nas articulações planas da figura 8, que são conhecidas como o “Rombóide” e a “Ponta de Lança”, e colocarmos uma sobre a outra de tal forma que as barras longas de uma sejam coladas às da outra, obtemos a célula original das figuras 5 e 7. Se mantivermos os ângulos entre as barras longas, ou as barras curtas, como no “Rombóide” e na “Ponta de Lança”, vemos que a altura do “Rombóide” multiplicada pela da “Ponta de Lança” é constante.

 

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Figura  8
(ver relatório da construção pdf)
 

       Suponhamos agora que, em vez de colarmos as barras longas, optámos por colar as barras curtas. Obtemos então a articulação plana da figura 9; e se o pivot onde as barras curtas se encontram for fixo, e um dos outros pivots soltos for obrigado a mover-se no círculo da figura 6, recorrendo à barra extra, o outro vai descrever, não a linha recta PM, mas a linha recta P’M’. Nesta forma, que é muito compacta, o movimento foi aplicado com sucesso nos ventiladores das Casas do Parlamento. A mobilidade e a ausência de fricção e barulho são notáveis. Os motores foram construídos, adaptando-lhes o aparelho de “Peaucellier”, por Mr. Prim, o engenheiro das Casas do Parlamento.
 
 

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Figura  9
(ver relatório da construção pdf)
 
       Uma outra modificação da célula está representada na figura 10. Se em vez de usarmos um “Rombóide” e uma “Ponta de Lança” com as mesmas dimensões, usarmos o mesmo “Rombóide” mas agora uma “Ponta de Lança” com metade do tamanho do anterior, mantendo contudo os mesmos ângulos, o produto das alturas vai ser metade do anterior, mas ainda constante.



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 Figura 10
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       Desta vez, em vez de colarmos as barras de uma figura na outra, na figura 10 juntámos as barras mais curtas de cada figura, interligando as extremidades. Então, como nos casos anteriores, se fixarmos o pivot, no ponto onde as barras são unidas, obtém-se uma célula que pode ser usada, pela utilização de uma barra extra, para descrever uma linha recta. Um modelo usando este tipo de célula está a ser exibido na Loan Collection na Conservatória de Artes e Profissões de Paris, e é de uma mão-de-obra exclusiva; o marcador parece nadar ao longo da linha recta.

       A descoberta de M. Peaucellier foi introduzida em Inglaterra pelo Prof. Sylvester, numa palestra que ele deu na Royal Institution, em Janeiro de 1874 (5), que suscitou muito interesse e marcou o início do interesse pelo estudo das articulações planas neste país.

       Em Agosto do mesmo ano, Mr. Hart, da Academia de Woolwich, leu um trabalho no encontro da Associação Britânica (6), no qual ele mostrava que a célula de M. Peaucellier podia ser substituída por um aparelho contendo apenas quatro barras em vez de seis.

       Se à célula comum de Peaucellier acrescentarmos duas barras, do mesmo tamanho das longas, obtemos 2 células, ou melhor, quatro células, já que pode ser usada de quatro maneiras diferentes, como se mostra na figura 11.
 

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Figura  11
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       Mr. Hart descobriu que se pegarmos num paralelogramo, no qual os lados adjacentes são diferentes e se cruzarmos as barras para formar um chamado contra-paralelogramo, representado na figura 12, e se depois tomarmos quatro pontos, nas quatro barras, dividindo as distâncias entre os pivots na mesma razão, então esses quatro pontos têm exactamente as mesmas propriedades que os quatros pontos da célula dupla.

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Figura  12
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       Que os quatro pontos são sempre colineares pode ser visto da seguinte forma: consideremos o triângulo abd; como aO : Ob = aP : Pd, concluímos que OP é paralela a bd e a distância entre essas paralelas está para a altura do triângulo abd assim como Ob está para ab; o mesmo argumento aplica-se à linha recta CO’, como ab : Ob = cd : O’d e as alturas dos triângulos abd e cbd, são claramente as mesmas, as distâncias de OP e O’C a bd são as mesmas, e OCPO’ situam-se sobre a mesma linha recta.

       Que o produto OC.OP é constante, resulta imediatamente do facto de que ObC é metade de uma “Ponta de lança” e OaP é metade de um “Rombóide”; analogamente se mostra que O’P.O’C é constante, e do mesmo modo, também o são OC.CO’ e OP.PO’.  Usando então a célula de Hart assim como usámos a de Peaucellier, obtemos um movimento rectilíneo com um mecanismo de cinco barras. Um modelo destes foi exibido na Loan Collection por M. Breguet.

Queremos agora chamar a atenção para uma extensão do aparelho do Mr. Hart, que foi descoberto simultaneamente pelo Prof. Sylvester e por A. Kempe. No aparelho de Mr. Hart estávamos apenas preocupados com barras e pontos nessas barras, mas no aparelho, que queremos agora descrever, temos peças em vez de barras. Acho que talvez seja mais interessante começar por contar a história do aparelho, especialmente porque isso permitirá mostrar outra articulação plana também muito distinta e importante – a que foi descoberta pelo Prof. Sylvester.

       Quando analisámos o problema do movimento do mecanismo de três barras, consistindo de duas barras radiais e uma transversal, ocorre de forma natural a ideia de considerar a relação entre as curvas descritas pelos pontos da barra transversal, em qualquer movimento de três barras, e as curvas descritas por um mecanismo semelhante, mas no qual as barras transversal e uma das radiais permutaram os seus papéis. A solução em breve se tornou óbvia - as curvas são semelhantes. Na figura 13, CD e BA são as duas barras radiais, rodando em torno dos centros fixos C e B, DA é a barra transversal, e P é um qualquer ponto na barra transversal, descrevendo uma curva que depende dos comprimentos de AB, BC, CD e DA.

        Agora juntamos ao movimento “três-barras” as barras CE e EA, de tal modo que CE=DA e EA=CD. CDAE torna-se então um paralelogramo.

Seja P um ponto da barra CA; se traçarmos uma semi-recta com origem em C que passe por P e a intersectarmos com a recta que contém EA, obtemos P'. Quando fazemos o mecanismo mover-se, verifica-se que CP':CP=CD:CE=k, com k constante. Assim a curva descrita por P' é exactamente a mesma que a descrita por P', embora a descrita por P' esteja para a descrita por P na razão k.



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  Figura 13
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Assim se retirarmos as barras CD e DA, obteremos uma articulação de três barras descrevendo exatamente as mesmas curvas só que com diferentes magnitudes, como descreveu o primeiro conjunto de três barras, e este novo conjunto de três barras é semelhante ao anterior com a articulação radial CD e a articulação transversal DA trocadas entre si (7).

Ao comunicar este resultado ao Professor Sylvester, este viu imediatamente que esta propriedade não se verifica apenas no caso particular do ponto P sobre a barra AD, no caso do movimento “três-barras”, mas era constituído pelo movimento de três peças, o mecanismo “três-barras” e dois triângulos rígidos.

Na figura 14, CDAB é um movimento “três-barras”, como na figura 13, mas agora P não se encontra na barra AD, P é o vértice de um triângulo rígido cujo um dos lados coincide com a barra AD. Agora, tal como antes, junte a barra CE e a barra AE,  de tal modo que CE=AD e EA=CD. Juntemos agora o triângulo AEP', fazendo com que o triângulo AEP' seja semelhante ao triângulo PDA ou seja, tal que os ângulos AEP' e ADP sejam iguais, e  P'E:EA=AD:DP.





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Figura 14
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É fácil compreender a partir daqui que PC':PC=k e que o ângulo PCP' é constante; desta maneira o lugar geométrico descrito pelos pontos P e P' são semelhantes, só que têm tamanhos diferentes, e um é rodada através de um ângulo e o outro através de outro.

Agora vamos observar que as duas demonstrações são inteiramente independentes da barra AB, que apenas afeta a curva particular descrita por P e P'. Se nos livrarmos de AB em ambos os casos, vamos obter na primeira figura o comum Pantógrafo e na segunda uma bonita extensão do mesmo, chamada pelo Professor Sylvester, o seu inventor, de Plagiógrafo ou “Skew” Pantógrafo. Tal como o Pantógrafo, o Plagiógrafo irá aumentar ou reduzir as figuras e rodá-las através de qualquer ângulo, escolhendo a posição certa de P e P. Podemos tomar qualquer valor para a razão CP':CP, assim como o ângulo PCP' pode ser construído para obtermos qualquer valor pedido. Se o ângulo PCP' é igual a 0º ou a 180º, vamos ter as duas formas do Pantógrafo no seu uso comum; se ele for construído de modo a assumir sucessivamente valor diferente dos referidos anteriormente, podemos a partir de P, repetindo o mesmo processo, obter P', rodando-o em torno do centro fixo C após a forma de um caleidoscópio. Conseguimos perceber através disto que o instrumento (que nunca foi praticamente construído) merece ser posto nas mãos do autor do projecto. Apresentamos aqui a figura de um pequeno modelo de uma forma possível para o instrumento, fornecido por Kempe à Loan Collection a pedido do Professor Sylvester (8).

Depois desta descoberta do Professor Sylvester, ocorreu em simultâneo ao professor e a Kempe (que comunicavam um ao outro as suas descobertas por correio) que o princípio do Plagiógrafo pode ser alargado ao Contra-paralelogramo do senhor Hart; é esta descoberta que vamos passar a explicar. Kempe aborda este assunto de um modo diferente daquele que descobriu, para conseguir explicar melhor.



 



Figura 15


Se pegarmos no Contra-paralelogramo do Sr. Hart e dobrarmos as articulações nos quatro pontos que estão sobre a mesma recta, através do mesmo ângulo, estes passarão a encontrar-se nos vértices de um paralelogramo de ângulos e área constantes, para que o produto dos dois lados adjacentes seja constante.

Na figura 16 os pontos estão sobre os vértices de um rectângulo. Os furos são tirados no meio das articulações, e a dobra fica em forma de ângulo recto.





Figura 16


      Os quatro furos OPO'C estão sobre os quatro vértices de um rectângulo, e o produto de quaisquer dois lados adjacentes, como no exemplo OC'OP, é constante. Segue-se que se O for rodado até ao ponto fixo O', como se vê na figura 6, e C for rodado até à extremidade da articulação, P descreverá uma linha recta inclinada para PM num ângulo semelhante ao das articulações das barras, isto é, um ângulo recta.


  Portanto a linha recta será paralela à recta que passa pelos pivots O e Q. Este aparelho que por simplicidade descrevi, como sendo formado por quatro linhas rectas que depois são “dobradas”, é certo que em linguagem mais formal, formam quatro planos ligados, tal como as utilizadas na Fig.1, na qual vários pontos são tomados. Isto explica o nome dado pelo Professor Sylvester, o “Quadruplane”. As suas propriedades não são difíceis de investigar, e quando se indica que na Fig.16, tal como na Fig.12, Ob, bC formam metade duma ponta de flecha, e Ao, aP metade de um papagaio, estas tornam-se evidentes.

 Não posso abandonar o estudo deste aparelho, ao qual meu nome está associado juntamente ao do Professor Sylvester, sem expressar a minha gratidão pelo seu interesse, que ajudou nas minhas investigações, e meu pesar pela sua partida para a América para ser Professor na nova Johns Hopkins University, o que me privou de valiosas sugestões e cujo encorajamento me ajudou tanto nas minhas investigações.
Antes de terminar o estudo da célula de Peaucellier e suas modificações, queria apenas indicar outra propriedade importante que possui, para além daquela que permite construir o movimento rectilíneo exacto.

4. Construção de circunferências de qualquer raio.

    Vimos que a nossa articulação plana mais simples permite-nos descrever uma circunferência com qualquer raio, e se quiséssemos descrever uma com dez milhas de raio o método mais apropriado seria ter uma ligação de dez milhas, mas como isso seria, no mínimo, trabalhoso, satisfaz-nos saber que conseguimos o mesmo propósito com muito menos aparato. Quando a célula de Peaucellier é construída com a finalidade de descrever uma linha recta, tal como já foi referido, a distância entre os pivots deve ser a mesma que o comprimento da ligação “extra”.

       Se esta distância não for a mesma, não obtemos linhas rectas descritas pelo lápis, mas sim circunferências. Se houver uma ligeira diferença, as circunferências descritas serão enormes, diminuindo em tamanho com o aumento da diferença da distância entre os pivots e o comprimento da ligação extra. Para um matemático que sabe que o inverso de uma circunferência é uma circunferência, isto é claro, mas não é de descurar uma prova desta proposição.

          Na Fig.17 supõe-se que OQ e OQ’ são proporcionais aos respectivos raios das circunferências. Então se ODCPS formam qualquer linha recta com origem em O, DQ será paralela a PQ’, e CQ a SQ', então OD : OP = OQ : OQ'.

    Considerando agora a prova que demos em relação à Fig.7, é claro que o produto OD.OC é constante, e desde que OP: OD= K (constante), então OP.OC é constante. Isto é, se OC.OP for constante e C descrever uma circunferência de centro Q, então P descreverá uma de centro Q’. Tomando O, C e P tal como O, C e P da célula de Peaucellier na Fig.7, vemos como P virá a descrever uma circunferência.

     Isto foi apenas necessário para salientar a importância da “bússola” que foi Peaucellier na arte mecânica de desenhar circunferências de grandes raios.

      Os modelos exibidos pelo Conservatório e do M.Breguet são fornecidos com pivots que se movimentam com o fim de variar a distância entre os pontos O e Q e assim obter circunferências de qualquer raio.

5. Construção de linhas rectas.

Vamos agora estudar mecanismos articulados seguindo a leitura do Professor Sylvester, o qual já foi referido.
 

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  Figura 17
(ver relatório da construção pdf)


      Ao longo desta leitura estava mencionado que existiriam provavelmente outras formas de movimentos de sete ligações paralelas segundo M. Peaucellier, até então o único conhecedor, que me orientou na investigação sobre este assunto. Eu sucedi-o obtendo novos movimentos paralelos e totalmente diferentes daqueles conhecidos por M.Peaucellier. Mostro dois desses exemplos, e o quanto seu estudo nos ajudarão a considerar outros importantes mecanismos articulados.
Se tomarmos dois rombóides, um que seja o dobro do outro, tal que a maior barra de cada seja o dobro do comprimento das mais pequenas, e em que a barra maior do rombóide mais pequeno seja do mesmo tamanho que a barra mais pequena do rombóide grande. Liguem-se os dois rombóides de modo a obter a figura 18.

 

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Figura 18
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     A propriedade importante deste sistema articulado é que, embora possamos movimentar as barras, fazendo com que os pontos P e P’ se aproximem ou se afastem um do outro, a linha imaginária que une P a P’ é sempre perpendicular à barra que une os pivots ou seja LM. Se um dos pontos P ou P’ for fixo, e a ligação LM se mova de modo a manter-se sempre paralela a uma linha fixa independentemente do movimento, o outro ponto descreverá uma recta perpendicular a essa linha fixa. A Fig.19 mostra o movimento descrito fixando P’. Não é necessário explicar como o paralelismo de LM é preservado adicionando a ligação SL, fica claro recorrendo à figura. A linha recta que é descrita pelo ponto P é perpendicular à recta que une os dois pivots fixos; podemos contudo, sem aumentarmos o número de barras, construir um ponto no mecanismo, que descreva uma linha recta que faz um ângulo definido

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 Figura19

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com SP ou, podemos pela substituição da ligação PC por uma peça plana, obter um número de pontos qualquer, movendo-se em qualquer direcção. Na Fig.20, para simplificar, apenas se mostram a barra CP’ e a nossa peça que substitui a ligação PC. A nova peça é circular e tem buracos por toda a peça à mesma distância de C em que PC = PC’. Agora vemos pela Fig.19 que P se move numa linha recta vertical, em que PC na Fig.20 é a mesma que na Fig.19; mas por uma propriedade da circunferência muito conhecida, se H for qualquer um dos buracos na peça, o ângulo HP’P é constante, assim a linha recta HP’ está fixa, e H move-se nessa linha; de igual modo todos os outros buracos movem-se ao longo de linhas rectas que passam no ponto fixo P’, e obtemos um movimento numa linha recta em todas as direcções.

      Este tipo de movimento é denominado pelo Professor Sylvester como “tram-motion” (movimento de vagões de carga). Vale a pena reparar, que o movimento do disco circular é o mesmo, se a circunferência a tracejado pequena rolasse dentro da circunferência a tracejado grande; temos então, o movimento paralelo de White reproduzido através de um mecanismo articulado. Claro que, se



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Figura 20
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pretendêssemos movimento numa só direcção, poderíamos retirar todo o disco excepto a porção que forma a barra contendo C, P e o ponto que  se move na direcção pretendida.

O  rombóide duplo da Fig.18 pode ser utilizado para produzir outros mecanismos articulados de utilidade. Por vezes, é necessário ter, não só um ponto, mas uma estrutura inteira em que todos os pontos se movam em linha recta. Como exemplos temos o escorrega apoiado num torno mecânico, as tábuas transversais, “marteladores”(punches), perfuradores, pontes levadiças, etc.. O  rombóide duplo permite-nos



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Figura 21
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produzir mecanismos articulados com essas propriedades. No mecanismo articulado da Fig.21 (construção que 


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Figura 22
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compreenderemos logo que se entenda o funcionamento do rombóide duplo), a barra horizontal move-se para a frente e para trás como que se deslizasse num eixo horizontal fixo. Este mecanismo poderia ser eventualmente útil na construção de uma viga mestra duma ponte levadiça.

No mecanismo articulado da Fig.22, que é outra combinação de dois rombóides duplos, a barra vertical move-se de tal forma que todos os pontos descrevem linhas rectas horizontais.

Existe uma modificação deste mecanismo articulado que será, na minha opinião, interessante. No sistema articulado da Fig.23, na qual, se as barras a fino fossem retiradas, seria o esboço da Fig.22, retiremos os segmentos de recta a tracejado e acrescentemos os segmentos de recta finos;





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Figura 23
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        Obtemos então um sistema articulado com as mesmas propriedades do mecanismo articulado da Fig.22, mas visto na sua nova forma como sendo a régua das paralelas duplas (ordinary double parallel ruler) com três barras adicionadas. A Fig.24 é uma régua de paralelas duplas (double parallel ruler) construído numa placa com uma leve modificação. Se a régua de baixo for fixa horizontalmente a de cima mover-se-á verticalmente para cima e para baixo na placa, não efectuando movimento lateral.

Enquanto estou com este tipo de movimento, posso descrever um trabalho exibido na Loan Collection pelo Professor Tchebicheff,


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Figura 24
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que é bastante parecido com um complicado banco de campismo, cujo assento efectua um movimento horizontal. O movimento não é completamente rectilíneo; o aparelho (como a linha a fino da figura





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Figura 25
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não varia de comprimento, logo poder-se-ia pôr uma barra no seu lugar) é uma combinação de dois movimentos paralelos do Professor Tchebicheff dados na Fig.4, com a inserção de algumas barras para manter o assento paralelo com a sua base. O desvio da superfície plana superior de um movimento completamente horizontal é por isso dupla do traçado do movimento paralelo simples.

A Fig.26 mostra como poderá ser produzido um aparelho similar, de construção muito mais simples, usando aproximações do movimento paralelo de Tchebicheff. Os comprimentos das barras que formam o movimento paralelo foram dados anteriormente (Fig.4). A distância entre pivots no assento móvel é metade da distância


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Figura 26
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entre os pivots fixos, e o comprimento da barra restante é metade do comprimento das barras radiais.

Um movimento exacto do mesmo tipo é apresentado na Fig.27. O, C, O', P são os quatro focos dum quadrilátero apresentado na figura, na qual as barras são dobradas em ângulo recto, de tal maneira que OC.OP é constante, e CÔP é um angulo recto. O foco O é articulado sobre um ponto fixo, e C é construído de modo a que a barra QC se mova num círculo de centro Q e raio QC=OQ. Consequentemente P move-se numa linha paralela a OQ. As cinco peças móveis descritas constituem o movimento paralelo de Sylvester-Kempe. A isto acrescentamos o banco móvel e a restante barra RO’. As distâncias aos pivots, PR e RO’, são tais que PR=RO’=OQ. Assim o banco permanece sempre paralelo a QO, e P move-se exactamente numa linha recta horizontal, tal como qualquer ponto nesta linha.




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Figura 27
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         Este sistema articulado pode ser usado como mesa de trabalho de mobilidade suave.

      Chegamos agora ao segundo dos movimentos paralelos. Se tomarmos um rombóide e articularmos a extremidade atenuada a um pivot fixo, e fizermos a extremidade mais afiada mover-se para cima e para baixo numa linha recta, passando entre o pivot fixo, as barras curtas rodarão em torno do pivot fixo com igual velocidade mas em direcções opostas. Reciprocamente, se as barras rodarem com igual velocidade em direcções opostas, a trajectória da extremidade afiada será uma linha recta, e o mesmo ocorrerá se, em vez das barras curtas estarem articuladas no mesmo ponto, estiverem articuladas em pontos diferentes.





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Figura 28
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      Como descobrir um mecanismo articulado que faça duas barras rodarem com igual velocidade em direcções opostas? Não há dificuldade em fazer duas barras rodarem com igual velocidade na mesma direcção - o mecanismo usual articulado do paralelogramo usado em locomotivas, composto do motor, das duas manivelas, e da barra de ligação, é o necessário; assim como também não há dificuldade em fazer duas barras rodarem em direcções opostas e com diferentes velocidades - o contra-paralelogramo dá-nos isso. 




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Figura 29
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      Depois de algumas dificuldades Kempe teve êxito na sua obtenção pela associação de dois contra-paralelogramos, colocados juntos tal como os dois rombóides no sistema articulado da Fig. 18. Um dos contra-paralelogramo é o dobro do outro, e as barras longas de cada um são o dobro das curtas (10).




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Figura 30
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       Os mecanismos articulados das Figs. 30 e 31 são, considerando a barra invisível que une os pivots fixos, dois seis-barras compostos de dois contra-paralelogramos como acima mencionado. As barras pontiagudas rodam com igual velocidade em direcções opostas, e por conseguinte, como mostrado na Fig. 28, originam simultaneamente movimentos paralelos. Estes mecanismos também podem ser usados no objectivo de inverter a velocidade angular (11).

      Uma extensão do sistema articulado empregue nestas duas últimas figuras dá-nos um interessante aparelho. Se tomarmos outro sistema articulado contra-paralelogramo de metade do tamanho do mais pequeno e ajustarmo-lo ao mais pequeno




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Figura 31
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exactamente como  ajustámos o mais pequeno ao maior, obtemos o 8-barras da Fig. 32. Tem, como se vê, quatro ligações pontiagudas radiando de um centro com ângulos iguais; se abrirmos as duas extremos até qualquer ângulo desejado, veremos que as duas intermédias trissectam  o ângulo. Isso tem, como pode ver, quatro barras irradiando de um ponto com ângulos iguais. Se abrirmos as barras dos extremos, formando estas qualquer ângulo, verá que os que ficam no meio vão exactamente trissectar o ângulo. Assim, o que usamos para obter o efeito do primeiro





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Figura 32
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postulado de Euclides sobre articulações planas, permite-nos resolver um problema sem solução “geométrica”. Posso obviamente

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Figura 33
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continuar a extender a articulação plana obtendo outras que dividam um ângulo em quantas partes queiramos. É obvio que estas articulações planas podem também ser utilizadas como ferramentas para duplicar, triplicar, etc, velocidades angulares (12).

       Outra versão do”Isoklinostat” - denominado pelo professor Sylvester - foi descoberta por ele. Esta articulação tem a grande vantagem de ser constituída por muitos braços tendo apenas duas distâncias pivot sem qualquer proporção entre elas, mas tem mais braços que o outro, e como a abertura dos braços é limitada, não pode ser utilizada como multiplicador de ângulos.

        Depois da publicação do artigo contendo uma lista dos trabalhos dos quais temos estado a falar, fizemos notar noutro artigo, perante a “Royal Society” (13), que os movimentos paralelos, bem como os de M. Peaucellier e Mr.Hart, são todos casos particulares de mecanismos articulados gerais que dependem do uso de uma articulação plana composta por duas figuras similares. Dado o carácter puramente matemático desta questão, o assunto não será convidativo a uma abordagem mais profunda, pelo que o deixamos em aberto para quem nele estiver interessado.

Pensamos que o problema da construção de uma linha recta com mecanismos articulados fica por aqui, e não queremos ir muito longe com a parte teórica por razões de ordem prática. Os resultados obtidos deverão interessar mais a um mecânico, caso tenham algum valor práctico. Mostramo-vos como conseguimos desenhar uma linha recta, problema que nos levou a investigar alguns tipos importantes de articulações. Com isto esperamos provar-vos o quão importante e interessante é este novo campo de investigação. Há de facto neste livro muitos factos que não foram provados (14); desafiamos o leitor a investigar o assunto, podendo assim fazer novas descobertas, uma vez que as áreas inexploradas neste assunto são ainda muitas. Não considere o assunto acabado com a leitura do nosso livro.




Alguns conceitos teóricos